Vencedores e vencidos
Estou feliz. Muito feliz. Pelas mulheres em geral e um pouco por mim também. Concordo perfeitamente com a afirmação de que se se erradicar a misoginia também se erradica a homofobia. Na sua base ambos, misoginia e homofobia, têm uma causa comum: o machismo; essa ideia cavernícola de que há fortes e fracos por «natureza», sendo que ao primeiro grupo pertencem, «naturalmente», os homens e os heterossexuais e ao segundo, as mulheres e os homossexuais. Um pequeno instrumento, no sentido dessa erradicação, foi hoje conquistado.
Contudo, como já aqui tinha explicado, não creio que tenhamos aberto o caminho para a modernidade ou entrado no século XXI. Sem um país já modernizado, o expressivo resultado do Sim desta noite não teria sido possível. Contraria tudo o que, constantemente, os meios de comunicação e os comentadores da praça dizem de Portugal. A saber: que somos um país subdesenvolvido, económica e culturalmente, e de que não temos remédio. Esta noite, os Vascos e os Fernandes da nossa terra tiveram também o seu quinhão de derrota. Mesmo que tenham votado Sim.
Mas os grandes perdedores da noite foram outros. Foram, e aí concordo perfeitamente com o Miguel Abrantes, todos aqueles que queriam impôr a sua visão confessional do direito ao resto do país.
A ICAR portuguesa saiu gravemente prejudicada, pela sua participação directa e indirecta neste referendo. Nunca o tinha referido, mas cheguei a ter pena de todos os católicos que ao longo da campanha se manifestaram pelo Sim. Ser epitetados de assassinos pelos próprios correlegionários não deve ser fácil e mais, quando visto de fora, se pode pensar que não são, como afirmam, católicos. Ratzinger perdeu fiéis e esta luta política.
Outros grandes perdedores foram a generalidade dos meios de comunicação, com louváveis excepções, como o DN, que apesar de alguns dias Não, teve uma cobertura que se revelou equilibrada, ou o Público, apesar do seu Director.
As televisões, repetindo à exaustão, a linguagem demagógica e desonesta do Não («liberalização», «referendo ao aborto», etc.) estiveram péssimas e parciais. Sobretudo a RTP que até decidiu cortar o discurso de vitória dos movimentos do Sim, em detrimento de intermináveis minutos de palmas na sede dos derrotados.
A SIC passou desesperadamente peças sobre «os milagres» da reprodução medicamente assitida. Desenterrou, imagine-se, a história de um paraplégico que não conseguia ejacular. Pior, não lhes podia ter saído o tiro.
Nem comento a cobertura de jornais como o Correio da Manhã, esse pasquim de mortes e de padres, que na sexta-feira conseguiu a proeza de ocultar o resultado de uma sondagem que dava a vitória ao Sim, e que ontem mesmo, publicava uma entrevista ao famoso proselitista das manhãs da RTP de seu nome Padre Borga. Da Rádio Renascença, tenho dito.
Mas o maiores perdedores da noite foram Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres, os responsáveis pelo imbróglio que foi todo este tema. Mandaram para a esfera referendária, por clara tacticidade, algo que a Assembleia da Rebública tinha toda a legitimidade para resolver. Previam que esta situação e a vitória sistemática do Não, acabasse por cansar o eleitorado e manter indefinidamente esta situação. Também lhes saiu o tiro ao lado. Em dez anos Portugal adiantou-se, por incrível que pareça, à sua vizinha Espanha. A hipocrisia e o direito canónico sairam, ainda que em parte, do Código Penal Português.
Ao contrário da generalidade dos comentadores, eu acredito que a esquerda ganhou este referendo, e com ele os partidos que sempre se bateram pela despenalização, mesmo com um PS titubiante em 1998 e, agora, com deputadas que mereciam estar na bancada do CDS-PP. Assim sendo, creio que foi uma vitória de José Socrates. Marques Mendes e a campanha desonesta que conduziu, perdeu em toda a linha. Vai continuar a perder influência dentro do partido. O CDS-PP está reduzido a uma insignificância que não tem paralelo com o número de comentadores que tem na esfera pública e nos centros de decisão.
Para finalizar, gostaria de dar os parabéns a todos os que conduziram o Sim. Uma imensidade de blogues lutou por isso e saliento sobretudo, porque foram os que mais segui, o sim referendo, o renaseveados, o câmara corporativa, o causa nossa, do qual não posso deixar de deixar uma palavra de apreço por Vital Moreira, apesar de lhe ter, de vez em quando, uma certa alergia, ou o glória fácil. O Sim deve muito a Fernanda Câncio.
Termino como comecei. Estou feliz. Muito Feliz. Sobretudo porque foi a primeira vez que o meu voto esteve do lado de quem ganhou umas eleições neste país.
Contudo, como já aqui tinha explicado, não creio que tenhamos aberto o caminho para a modernidade ou entrado no século XXI. Sem um país já modernizado, o expressivo resultado do Sim desta noite não teria sido possível. Contraria tudo o que, constantemente, os meios de comunicação e os comentadores da praça dizem de Portugal. A saber: que somos um país subdesenvolvido, económica e culturalmente, e de que não temos remédio. Esta noite, os Vascos e os Fernandes da nossa terra tiveram também o seu quinhão de derrota. Mesmo que tenham votado Sim.
Mas os grandes perdedores da noite foram outros. Foram, e aí concordo perfeitamente com o Miguel Abrantes, todos aqueles que queriam impôr a sua visão confessional do direito ao resto do país.
A ICAR portuguesa saiu gravemente prejudicada, pela sua participação directa e indirecta neste referendo. Nunca o tinha referido, mas cheguei a ter pena de todos os católicos que ao longo da campanha se manifestaram pelo Sim. Ser epitetados de assassinos pelos próprios correlegionários não deve ser fácil e mais, quando visto de fora, se pode pensar que não são, como afirmam, católicos. Ratzinger perdeu fiéis e esta luta política.
Outros grandes perdedores foram a generalidade dos meios de comunicação, com louváveis excepções, como o DN, que apesar de alguns dias Não, teve uma cobertura que se revelou equilibrada, ou o Público, apesar do seu Director.
As televisões, repetindo à exaustão, a linguagem demagógica e desonesta do Não («liberalização», «referendo ao aborto», etc.) estiveram péssimas e parciais. Sobretudo a RTP que até decidiu cortar o discurso de vitória dos movimentos do Sim, em detrimento de intermináveis minutos de palmas na sede dos derrotados.
A SIC passou desesperadamente peças sobre «os milagres» da reprodução medicamente assitida. Desenterrou, imagine-se, a história de um paraplégico que não conseguia ejacular. Pior, não lhes podia ter saído o tiro.
Nem comento a cobertura de jornais como o Correio da Manhã, esse pasquim de mortes e de padres, que na sexta-feira conseguiu a proeza de ocultar o resultado de uma sondagem que dava a vitória ao Sim, e que ontem mesmo, publicava uma entrevista ao famoso proselitista das manhãs da RTP de seu nome Padre Borga. Da Rádio Renascença, tenho dito.
Mas o maiores perdedores da noite foram Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres, os responsáveis pelo imbróglio que foi todo este tema. Mandaram para a esfera referendária, por clara tacticidade, algo que a Assembleia da Rebública tinha toda a legitimidade para resolver. Previam que esta situação e a vitória sistemática do Não, acabasse por cansar o eleitorado e manter indefinidamente esta situação. Também lhes saiu o tiro ao lado. Em dez anos Portugal adiantou-se, por incrível que pareça, à sua vizinha Espanha. A hipocrisia e o direito canónico sairam, ainda que em parte, do Código Penal Português.
Ao contrário da generalidade dos comentadores, eu acredito que a esquerda ganhou este referendo, e com ele os partidos que sempre se bateram pela despenalização, mesmo com um PS titubiante em 1998 e, agora, com deputadas que mereciam estar na bancada do CDS-PP. Assim sendo, creio que foi uma vitória de José Socrates. Marques Mendes e a campanha desonesta que conduziu, perdeu em toda a linha. Vai continuar a perder influência dentro do partido. O CDS-PP está reduzido a uma insignificância que não tem paralelo com o número de comentadores que tem na esfera pública e nos centros de decisão.
Para finalizar, gostaria de dar os parabéns a todos os que conduziram o Sim. Uma imensidade de blogues lutou por isso e saliento sobretudo, porque foram os que mais segui, o sim referendo, o renaseveados, o câmara corporativa, o causa nossa, do qual não posso deixar de deixar uma palavra de apreço por Vital Moreira, apesar de lhe ter, de vez em quando, uma certa alergia, ou o glória fácil. O Sim deve muito a Fernanda Câncio.
Termino como comecei. Estou feliz. Muito Feliz. Sobretudo porque foi a primeira vez que o meu voto esteve do lado de quem ganhou umas eleições neste país.
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