A maioridade
Systematic Examination, Biljana Djurdjevic (2005)
As últimas sondagens dão ao Sim 58, 54 ou 53% das intenções de voto, bastante vagas, suponho, sobre o que esperar dos verdadeiros resultados. Tanto mais que a abstenção pode superar os 50% e tornar, outra vez, o resultado não vinculativo ou sem força.
Poucas coisas me motivam mais do que o que esteve em causa neste referendo. Apesar de, no fundo, achar que o que se discutiu foi, em si, uma coisa inaceitável numa sociedade que se diz moderna: discutir a mulher, o seu corpo (e nele incluo tudo o que não é físico); esventrar um mundo que só a ela diz respeito. Uma devassidão, portanto. Um ter que discutir, em pleno século XXI, se a mulher é uma coisa ou um ser humano (Homem, como qualquer outro), capaz de tomar decisões sem a ajuda do lado masculino do planeta, lado esse representado e consagrado nas leis de um país.
Mas dizia que poucas coisas me motivam mais. A de lutar pelo direitos das minorias, sendo a mulher uma estranha minoria, já que compõe mais de metade do país. Mas o Bandeira é que tinha razão: a misoginia é cada vez menos uma prerrogativa masculina. Não acho estranho até, sabendo, por exemplo, que entre os homossexuais poucos estariam dispostos a ter uma posição favorável à sua emancipação (seja qual for o tema). O status quo interessa tanto aos carrascos, como às vítimas: vive-se o drama que se conhece.
Queria, no entanto, deixar uma palavra às pessoas que por aqui passem e que tenham a paciência de me ler: abstendo-se ou votando Não no próximo domingo, estão a perpetuar tudo, tal qual está. Não vai existir esse Não que é Sim. Ganhando o Sim, o campo de batalha passa a ser exclusivo de cada mulher perante a sua própria realidade. Deixe-a obter a maioridade.
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