terça-feira, fevereiro 13, 2007

Grandes lavagens de cérebro, ou a vingança dos filhos de Salazar

O que se está a passar com este programa da RTP é inqualificável. Assistimos hoje, passados 30 e quase 3 anos do 25 de abril, à reabilitação de uma personagem que só podia ser considerada detestável na história do país.

A RTP investiu em Jaime Nogueira Pinto a tarefa dessa autêntica lavagem de cérebro. Salazar foi pintado, exclusivamente, pelas suas virtudes de grande economista e nacionalista. Pôs as contas em ordem, fez crescer economicamente um país saído da ruína da «ditadura democrática» (assim descreveu Nogueira Pinto o período entre 1910 e 1926, termo que recusou usar para o «Estado Novo»), e «salvou» o país das catástrofes que foram a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial e dos comunistas. «Um grande português que pretendeu conservar a nação tal como a recebeu».

Os «males», considerados menores, da falta de liberdade, da prisão, da perseguição, da imensa pobreza, do atraso económico e cultural, foram menorizados ou até mesmo desmentidos. O grande desenvolvimento económico dos anos 60, por exemplo, pintados como se tal não tivesse surgido também, e diria que em grande parte, pela gigantesca máquina criada para satisfazer uma guerra absurda.

Como é tempo de defesa da católica alma, Nogueira Pinto não se coibiu, inclusivamente, de mostrar a humilde casinha onde nasceu o estadista e a singela campa do cemitério de Vimieiro onde repousa eternamente. «Não há quem olhe por isto, quem ponha as mãos aos céus e lhes dê a recuperação que tanto merecem?!», podia ler-se nas entrelinhas.

Vergonhoso programa que envergonha a estação pública e todos aqueles que, mesmo sem recorrer a José Mattoso, não necessitam de grande memória para perceber o que se passou esta noite: uma visão parcial sobre um homem que transformou Portugal numa imenso rebanho, num imenso curral da Europa, virado contra tudo e contra todos, levado pela loucura que imaginou, só como sempre esteve, ser a melhor para todos. Uma vã guarda que, para mal dos nossos pecados, e com o beneplácito da estação pública, parece querer ressuscitar.