segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Confundir

Não sei se alguma vez conseguiram fazer o download da edição do dia do Público. Eu não. Deve ser alguma coisa do meu sistema operativo que o impede...

João Cândido da Silva, o responsável do, felizmente extinto, Dia D, suplemento do dito jornal e a bíblia neo-con do rectângulo, assinou hoje um texto, com o título «Discursos desasjustados», em cuja primeira parte mete ao barulho o «caso Gisberta».

O «discurso» não é novo. Patati patatá, descobrimos, em primeiro lugar, que o jornalista nem sabe o que é um/a transsexual. Continua a designá-la como «um» transsexual. Sugeria ao dito jornalista que consultasse a terminologia antes de dar rédea solta à pena. Não custa nada informar-se.

Depois, veio o eterno ódio a certas associações, gente ensemismada que não sabe o que faz e que «em vez da condenação de um comportamento displicente da justiça que afecta, de uma forma geral, toda a sociedade, fizeram um discurso centrado no seu pequeno universo de preocupações, acusando a justiça de que podem "matar-se transexuais, porque isso não tem em si consequência jurídica", conforme pôde ler-se no texto do Público que fez a reportagem do acontecimento. O problema grave, mas que parece não ter sido devidamente compreendido, é que, em Portugal, podem perpetuar-se homicídios impunemente, sendo a qualidade da vítima absolutamente indiferente. Infelizmente, o "caso Gisberta" é importante por não ser inédito e não pelo facto de a vítima ter sido quem foi».

Os Cândidos da Silva do país, vulgares em qualquer jornal de «referência» do rectângulo e numa miríades de blogues, pretendem confundir a opinião pública, através de correlações abusivas e de uma linguagem enganadora, de modo a imporem, como inevitável para o bem da nação, a sua agenda liberal-conservadora. O caldo homo e transfóbico ajuda imenso.

É verdade que o Estado gasta mais do que deve e gasta-o mal muitas vezes, portanto, segundo esta gente, é cortar a direito em tudo (ai o deficit!). A Justiça funciona pessimamente e o Processo Penal permite a impunidade, logo, segundo esta gente, não deve ser criada mais legislação para crimes de natureza fracturante (ai a burocracia!). Muitas associações são, de facto, obscuras, lesivas até do interesse geral, em consequência, para esta gente, não devem ser levadas em conta, para mais se, aos olhos do vulgo, de natureza egoísta e lasciva como as LGBT.

Pobre Gisberta, se sonhasse estar a ser instrumentalizada desta forma.