Contribuir com os meus impostos para subsidiar o negacionismo?
Ontem a RTP passou a «defesa» de diplomata Aristides de Sousa Mendes, nesse concurso (?) que dá pelo nome de «Grandes Portugueses». Desta vez o «defensor» foi José Miguel Júdice.
Havia que «defendê-lo» de alguma coisa? Aparentemente sim. Sobretudo, um dia depois de Jaime Nogueira Pinto ter afirmado, na «defesa» de Salazar, que este havia promovido a entrada de refugiados judeus por sua alta recriação e bondade. Claro, uma falsidade absoluta e que passou com a maior das canduras. Jaime Nogueira Pinto, só neste bocadinho, escarrou na memória de Sousa Mendes e de, pelo menos, 10 000 judeus que cá passaram nesse período. Tudo com o patrocínio da RTP.
A este propósito vale a pena atentar nas palavras de Ana Gomes, hoje no causa nossa:
A mim parece-me que não há nada que valorize mais a imagem de um país como a defesa de valores fundamentais e do funcionamento do Estado de Direito. No apuramento da verdade, doa a quem doer, dentro ou fora. Dentro e fora. E a Europa é dentro para nós, claramente.
É que não teríamos hoje democracia no nosso país se todos tivéssemos passado os 48 anos entre 1926 e 1974 a "valorizar e promover a imagem de Portugal a nível internacional" acriticamente, varrendo para debaixo do tapete os crimes do regime salazarista...cometidos em nome do bem-estar, da segurança e do bom nome de Portugal, convém lembrar.
E ainda de Filipe Castro, há uns dias, no Oeste Bravio:
Quando leio, oiço, ou vejo estas coisas, penso sempre se na Europa alguma vez alguém se ralaria com as pessoas que são ou foram torturadas.
Os americanos discutem estas coisas no Congresso e no Senado, metem-nas nos jornais e nos blogs. Os europeus parece que não gostam de perder tempo com estas minudências. Em Portugal, as notícias de espancamentos e assassínios nas esquadras da polícia, os abusos sexuais sobre prostitutas por polícias e juízes, o terrorismo organizado pelo governo contra a população civil basca, os crimes (horríveis!) da guerra colonial, nada disto gerou nenhuma espécie de má consciência, nenhuma reflexão, nenhuma consequência.
Em Espanha falou-se de tortura de prisioneiros bascos com alguma informalidade, em França publicaram-se livros sobre a tortura e o assassínio de prisioneiros políticos na Argélia sem que ninguém pestanejasse, soube-se dos ataques terroristas dos serviços secretos contra o Green Peace, por exemplo, e não houve consequências, os belgas preferem não falar sobre o Congo, os ingleses esqueceram-se completamente dos massacres de milhões de pessoas dos séculos XVIII e XIX na Índia, ou do massacre dos mau mau, ou da fome organizada na Irlanda, ou da guerra do ópio, e o mesmo se passa em Itália, na Polónia...
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