Lavando a carinha
Parece que o Governo português não reconhece legitimidade a relatório americano sobre direitos humanos. Eu gostaria, sinceramente, de saber porquê? Tanto mais que o dito relatório parece apontar coisas que qualquer português concordaria: abusos das forças de segurança, más condições das cadeias, recurso excessivo da prisão preventiva e tráfico de mão-de-obra estrangeira e de mulheres.
De onde vem, então, a ilegitimidade americana? Dos atropelos aos direitos humanos nos EUA dos quais raramente se ouve falar em Portugal salvo uma ou outra noticiazinha de rodapé sobre penas e corredores de morte? Ou, por exemplo, do tratamento a prisioneiros de guerra em Abu Grahib e Guantánamo?
A ser a segunda hipótese impõe-se a seguinte reflexão: não tendo Portugal nada a recear, e tendo uma tão má imagem dos EUA no que toca a este assunto, não seria necessária uma cautela extrema com os voos militares americanos, mesmo que efectuados ao abrigo de mandatos das Nações Unidas? Chegava a boa-fé?
A pouca vergonha disto tudo é que crimes contra a dignidade do Homem, tanto os perpetrados por outros em território nacional como os nossos próprios, passam sempre para segundo plano quando toca a lavar a carinha do rectângulo. Num caso, para se lavar a cumplicidade dos governos portugueses com a vergonhosa política americana no Iraque, no segundo para apagar os atropelos internos aos direitos humanos, alguns deles tão antigos como a República.
Mais, políticos como Ana Gomes são uma raridade em Portugal, mas não nos EUA mesmo numa Administração liderada por Bush. Políticos que colocam uma fasquia a partir da qual não descem: a defesa intransigente da democracia e da dignidade do homem, seja em que circunstância for.
A ser a segunda hipótese impõe-se a seguinte reflexão: não tendo Portugal nada a recear, e tendo uma tão má imagem dos EUA no que toca a este assunto, não seria necessária uma cautela extrema com os voos militares americanos, mesmo que efectuados ao abrigo de mandatos das Nações Unidas? Chegava a boa-fé?
A pouca vergonha disto tudo é que crimes contra a dignidade do Homem, tanto os perpetrados por outros em território nacional como os nossos próprios, passam sempre para segundo plano quando toca a lavar a carinha do rectângulo. Num caso, para se lavar a cumplicidade dos governos portugueses com a vergonhosa política americana no Iraque, no segundo para apagar os atropelos internos aos direitos humanos, alguns deles tão antigos como a República.
Mais, políticos como Ana Gomes são uma raridade em Portugal, mas não nos EUA mesmo numa Administração liderada por Bush. Políticos que colocam uma fasquia a partir da qual não descem: a defesa intransigente da democracia e da dignidade do homem, seja em que circunstância for.
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