Direito à hipocrisia e à pouca-vergonha?
Duas notas prévias: sou pela liberdade de expressão e sou ateu. Isto porque parece que ver a coisa para além do prisma «liberdade de expressão» me converte automaticamente em defensor do radicalismo; mais, converte-me em «muçulmano».
Quando ontem lia isto no Correio da Manhã, não pude deixar de ter espasmos pré-vómito perante isto (o Miguel e muita gente que admiro que me desculpe, mas é o que sinto).
Então não é que agora, perante o «ataque» do «mundo islâmico» (agora chamam-lhe xenófoba e ignorantemente «rua árabe») a um país europeu, os homofóbicos da praça até já nos (a mim também) querem mostar, tipo macacos em jardim zoológico, aos bárbaros muçulmanos como exemplo de que a Europa é um lugar «civilizado». Precisamente neste momento, em que se inaugurou a discussão do casamento entre PMS no nosso país e em que esses mesmos homofóbicos da praça (e são a grande maioria dos opinon makers do «beco cristão») se empenham em demonstrar que somos (como se houvessem dois gays iguais!) atrasados mentais, gente promíscua, incapaz de ter filhos e dar um um futuro à nação.
É que quem lê isto que o MVA escreveu há uns tempos, a propósito da vaga de violência em França, não consegue mesmo perceber como pode embarcar cegamente numa manifestação que apela ao mais obtuso dos slogans: uma suposta chantagem islâmica à «liberdade de expressão europeia».
Será que a Dinamarca, ou o glorioso «Império do Ocidente», nada tem a ver com o que se passa no mundo islâmico? Não tem responsabilidades na manutenção dos muitos problemas que por lá subsistem? Não tem responsabilidades no facto de religiosos fanáticos terem tomado o poder e de manterem as respectivas populações sob a chantagem de uma religião misógina, homofóbica e racista? Não tem responsabilidades de marginalização dos habitantes do espaço muçulmano (digo habitantes, porque nem todos são muçulmanos e muito menos radicais), mesmo dos que imigraram para a Europa, em busca de melhores condições de vida?
Se a «coisa» é dizer ao senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros português que não pode justificar-se socorrendo-se da Virgem Maria para cercear a liberdade de se ser neo-nazi, então que se seja claro! Que seja uma «cruzada» anti-religiosa que o digam claramente! Mas que não se venha com o «projecto comum europeu» (que não existe para além da economia partilhada), porque então teria que perguntar: porque não esteve essa gente em frente da embaixada da Polónia para protestar a favor da liberdade de expressão de gays e lésbicas daquele país? Porque não esteve em frente da embaixada da China para exigir «liberdade de expressão» e já agora exigir à Google que não ceda às pressões chinesas na sua tentativa de branquear o regime e de censurar conteúdos aos seus cidadãos?
Será que esta manifestação tem o intuito de melhorar as condições da populações do mundo islâmico? Ou é para que a Dinamarca possa continuar a vender bolos de manteiga e a ser «boazinha» perante esses «bárbaros»?
É que nunca esteve em causa a «liberdade de expressão»; o que está em causa é avançar para um mundo que não se verga (porque pode chantagear economicamente o «Ocidente») à nova agenda «politicamente incorrecta» que quer à força (esse é o american way to do it) ou suavemente (esse é european way to do it) pôr o «inimigo» a cooperar com os interesses económicos da «civilização ocidental». Sim, porque alguém já se manifestou contra uma Arábia Saudita, cooperante com o Ocidente, mas que mantém o mais obscuro dos regimes daquelas bandas?
Tudo isto me cheira a hipocrisia, tudo isto me cheira a uma imensa falta de vergonha. Construir a imagem dos «bárbaros» é coisa que o Ocidente sempre fez e os resultados e a verdadeira bomba estala-lhe nas mãos, precisamente por sua quase exclusiva culpa. Nesse sentido só posso estar com o Daniel Oliveira: os cartoons discutem-se; as provocações discutem-se. Porque nem a Dinamarca, nem nenhum país é inocente nesta história.
E, de facto, não estou nem com neo-nazis, nem com radicais de nenhuma espécie, estou com a liberdade, a luta pela igualdade e pela miscigenação!
P.S. Post remendado: onde estava «paradas gay» mudei para «marchas LGBT» porque concordo com o Boss, nos comentários; a intenção não era denegrir nem dar uma má conotação à manifestação. Onde estava o link para o aspirina em geral pus só para o link do Daniel Oliveira e do Rui Tavares. Mas também posso acrescentar o link para o Nuno Ramos de Almeida e, já agora, para os excelentes posts do Eduardo Pitta e da Ana Sá Lopes.
P.S. 1 Post duplamente remendado (15/02/2006). Foi retirado este trecho «Por muito que os promotores sejam os mesmos que estão à frente de marchas LGTB, como Rui Zink; aliás nas páginas do Inimigo Público, Zink e companhia têm sistematicamente construído uma imagem dos homossexuais em nada diferente dos seculares preconceitos que sobre eles existem. Sim, sou pela liberdade de expressão e gosto de cartoons, mas também tenho o direito a pensar por mim». O ALF, nos comentários, fez-me ir à ficha técnica do suplemento satírico do PÚBLICO. De facto, não consta lá o nome de Rui Zink. Fui induzido em erro por alguma leitura que tenha feito sobre a autoria daquele suplemento. Ao visado o meu pedido de desculpas e ao ALF um obrigado pelo alerta.
Quando ontem lia isto no Correio da Manhã, não pude deixar de ter espasmos pré-vómito perante isto (o Miguel e muita gente que admiro que me desculpe, mas é o que sinto).
Então não é que agora, perante o «ataque» do «mundo islâmico» (agora chamam-lhe xenófoba e ignorantemente «rua árabe») a um país europeu, os homofóbicos da praça até já nos (a mim também) querem mostar, tipo macacos em jardim zoológico, aos bárbaros muçulmanos como exemplo de que a Europa é um lugar «civilizado». Precisamente neste momento, em que se inaugurou a discussão do casamento entre PMS no nosso país e em que esses mesmos homofóbicos da praça (e são a grande maioria dos opinon makers do «beco cristão») se empenham em demonstrar que somos (como se houvessem dois gays iguais!) atrasados mentais, gente promíscua, incapaz de ter filhos e dar um um futuro à nação.
É que quem lê isto que o MVA escreveu há uns tempos, a propósito da vaga de violência em França, não consegue mesmo perceber como pode embarcar cegamente numa manifestação que apela ao mais obtuso dos slogans: uma suposta chantagem islâmica à «liberdade de expressão europeia».
Será que a Dinamarca, ou o glorioso «Império do Ocidente», nada tem a ver com o que se passa no mundo islâmico? Não tem responsabilidades na manutenção dos muitos problemas que por lá subsistem? Não tem responsabilidades no facto de religiosos fanáticos terem tomado o poder e de manterem as respectivas populações sob a chantagem de uma religião misógina, homofóbica e racista? Não tem responsabilidades de marginalização dos habitantes do espaço muçulmano (digo habitantes, porque nem todos são muçulmanos e muito menos radicais), mesmo dos que imigraram para a Europa, em busca de melhores condições de vida?
Se a «coisa» é dizer ao senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros português que não pode justificar-se socorrendo-se da Virgem Maria para cercear a liberdade de se ser neo-nazi, então que se seja claro! Que seja uma «cruzada» anti-religiosa que o digam claramente! Mas que não se venha com o «projecto comum europeu» (que não existe para além da economia partilhada), porque então teria que perguntar: porque não esteve essa gente em frente da embaixada da Polónia para protestar a favor da liberdade de expressão de gays e lésbicas daquele país? Porque não esteve em frente da embaixada da China para exigir «liberdade de expressão» e já agora exigir à Google que não ceda às pressões chinesas na sua tentativa de branquear o regime e de censurar conteúdos aos seus cidadãos?
Será que esta manifestação tem o intuito de melhorar as condições da populações do mundo islâmico? Ou é para que a Dinamarca possa continuar a vender bolos de manteiga e a ser «boazinha» perante esses «bárbaros»?
É que nunca esteve em causa a «liberdade de expressão»; o que está em causa é avançar para um mundo que não se verga (porque pode chantagear economicamente o «Ocidente») à nova agenda «politicamente incorrecta» que quer à força (esse é o american way to do it) ou suavemente (esse é european way to do it) pôr o «inimigo» a cooperar com os interesses económicos da «civilização ocidental». Sim, porque alguém já se manifestou contra uma Arábia Saudita, cooperante com o Ocidente, mas que mantém o mais obscuro dos regimes daquelas bandas?
Tudo isto me cheira a hipocrisia, tudo isto me cheira a uma imensa falta de vergonha. Construir a imagem dos «bárbaros» é coisa que o Ocidente sempre fez e os resultados e a verdadeira bomba estala-lhe nas mãos, precisamente por sua quase exclusiva culpa. Nesse sentido só posso estar com o Daniel Oliveira: os cartoons discutem-se; as provocações discutem-se. Porque nem a Dinamarca, nem nenhum país é inocente nesta história.
E, de facto, não estou nem com neo-nazis, nem com radicais de nenhuma espécie, estou com a liberdade, a luta pela igualdade e pela miscigenação!
P.S. Post remendado: onde estava «paradas gay» mudei para «marchas LGBT» porque concordo com o Boss, nos comentários; a intenção não era denegrir nem dar uma má conotação à manifestação. Onde estava o link para o aspirina em geral pus só para o link do Daniel Oliveira e do Rui Tavares. Mas também posso acrescentar o link para o Nuno Ramos de Almeida e, já agora, para os excelentes posts do Eduardo Pitta e da Ana Sá Lopes.
P.S. 1 Post duplamente remendado (15/02/2006). Foi retirado este trecho «Por muito que os promotores sejam os mesmos que estão à frente de marchas LGTB, como Rui Zink; aliás nas páginas do Inimigo Público, Zink e companhia têm sistematicamente construído uma imagem dos homossexuais em nada diferente dos seculares preconceitos que sobre eles existem. Sim, sou pela liberdade de expressão e gosto de cartoons, mas também tenho o direito a pensar por mim». O ALF, nos comentários, fez-me ir à ficha técnica do suplemento satírico do PÚBLICO. De facto, não consta lá o nome de Rui Zink. Fui induzido em erro por alguma leitura que tenha feito sobre a autoria daquele suplemento. Ao visado o meu pedido de desculpas e ao ALF um obrigado pelo alerta.
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